terça-feira, 7 de março de 2017

UMA HISTÓRIA AINDA RECENTE

Veio me cumprimentar de cabeça baixa. Estendeu as mãos sem olhar nos meus olhos. Falou com voz tímida como se tentasse esconder algo vergonhoso.

Aparentava ter não mais que quarenta anos. As mãos calejadas denunciavam a vida dura de quem vive do que a terra dá.

Ainda de cabeça baixa me chamou pelo nome e pediu um favor.

- Desculpa!  Disse desconfiado como se tivesse feito algo de errado.

- Pode me fazer um favor? Perguntou com ar de desconfiança.

-Sim amigo! Em que posso ajudar? Respondi.

O homem puxou um papel do bolso da velha calça desbotada.

- É que não sei ler. Revelou-me como se tivesse confessando um crime horrível.

Peguei o papel. Li em voz baixa. Depois levantei a vista e vi que estava ansioso.

Estendi a mão para lhe entregar o papel e disse:

- A conta vence hoje. Você pode pagar na lotérica aí dentro do mercado.

- Obrigado! Agradeceu com postura de inferioridade.

Antes de voltar para o mercado e entrar na fila da lotérica, o homem fez questão de justificar sua condição.

- Sou filho de seringueiro. Moro na colocação Xapuri no Seringal Icuriã. Meu pai não me deixou estudar porque eu tinha que cortar seringa pra ajudar a sustentar a família.

Já caminhando em direção à fila do caixa, o homem me chamou a atenção e disse orgulhoso:

- Meus cinco meninos estão todos na escola.

(Jerry Correia)

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